Apresentado na Assembleia Legislativa, projeto de lei quer reduzir o tamanho da área de proteção que vai de norte a sul do estado de 392 mil para 126 mil hectares
Cânion Guartelá faz parte da APA da Escarpa Devoniana Brunno Covello/Gazeta do Povo/Arquivo
Já Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), classifica a proposta como um retrocesso, que não reflete os parâmetros que levaram à formação da APA em 1992. Para ele, os argumentos do projeto não se justificam, na medida em que a área da Escarpa Devoniana não é uma unidade de conservação restritiva. Ao contrário, diz o ambientalista, é bastante flexível, garantindo a manutenção das atividades econômicas já existentes no local, dentro do regramento da legislação ambiental do país.
INFOGRÁFICO: conheça a Escarpa Devoniana
“A redução da APA é inaceitável e atende ao interesse do agronegócio de forma unilateral, não ao interesse público. É evidente que eles devem ser ouvidos, mas tem de haver ponderação. Infelizmente, governo e Assembleia não têm tido a devida isenção para discutir esses temas. Quem arrota mais grosso leva e, desse jeito, sempre vai prevalecer o aspecto econômico”, critica. Ele ressalta, por exemplo, que o estudo que embasa o projeto foi feito pela Fundação ABC, cujo objetivo, segundo a própria entidade, é “promover soluções tecnológicas para o agronegócio”.
Pró-redução
Por outro lado, a Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre) defende que a medida não irá interferir na conservação da área a ser preservada, sobretudo porque o Código Florestal já estabelece as dimensões que deverão continuar sendo respeitadas. “O que é área de conservação será mantido; o que é destinado à produção também, podendo, apenas, o produtor escolher qual a melhor cultura que lhe convém”, diz a nota.
Representante das empresas reflorestadoras do estado, a Apre afirma que o setor está presente em 50 mil hectares da Escarpa Devoniana por meio de “remanescentes, reservas legais e Áreas de Preservação Permanente (APP), que recebem o cuidado e atenção necessários, evitando, inclusive, perdas com incêndios, comuns em parques e outras áreas que não estão sob a gestão privada”.
A secretária de Agricultura e Meio Ambiente de Balsa Nova, Jucélia Ferreira, também é favorável ao projeto que tramita no Legislativo estadual. Segundo ela, 73% do município está dentro da APA da escarpa e, por isso, já há uma série de restrições ambientais que dificultam o crescimento econômico da cidade.
Conheça a Escarpa Devoniana
Elevação rochosa que está sustentada pela formação furnas. Ela divide o Primeiro do Segundo Planalto paranaense. Começa na Lapa e termina na divisa com São Paulo. A rocha que sustenta a escarpa se formou há 400 milhões de anos, no período devoniano.
Criação da APA
Em 27 de março de 1992, o governo do Paraná decretou a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana. Atividades econômicas são permitidas, desde que autorizadas pelos órgãos ambientais. Ela abrange nove unidades de conservação, entre elas os seguintes parques turísticos:
1
PARQUE DO CERRADO
Jaguariaíva
Foto: Arquivo GP /Henry Milleo
2
PARQUE DO GUARTELÁ
Tibagi
3
PARQUE DE VILA VELHA
Ponta Grossa
4
PARQUE DO MONGE
Lapa
Foto: Arquivo GP /Ivonaldo Alexandre
Flora predominante
A vegetação característica do entorno da Escarpa Devoniana é de campos naturais, que integram o bioma Mata Atlântica. Segundo a publicação Ecossistemas Paranaenses, os campos ocupam 8,4% do território do Paraná. Eles são representados por uma vegetação de gramíneas rasteiras e são habitat de diversos animais, como o lobo-guará.