FOLHA Opinião
Em tempos em que o presidente da maior empreiteira do País, Marcelo Odebrecht, e o outrora sétimo homem mais rico do mundo, Eike Batista, estão encalacrados, vendo seu patrimônio financeiro escorrer pelos ralos da Lava Jato, a parcela honesta da elite brasileira parece sofrer um golpe ainda mais duro. É ela a mais afetada pela recessão econômica do País, conforme pesquisa divulgada na última semana pela Tendências Consultoria Integrada, de São Paulo.
O estudo aponta que as famílias com rendimento superior a R$ 16.263, inseridas, portanto, nas camadas mais altas da nossa sociedade, sofreram a maior perda percentual na retração total da massa de renda da população no ano passado. No total, a queda na massa de renda foi de R$ 76,6 bilhões, uma retração média de 2% em relação a 2015, sendo que só a chamada classe A perdeu R$ 39 bilhões (50,9%), o que representa um recuo de 2,9%.
As pessoas que ganham entre R$ 5.223 a R$ 16.263, classificadas na pesquisa como da classe B, também sofreram danos com a letargia de nossa economia, mas em um grau um pouco menor. Perderam R$ 21,4 bilhões na renda, um recuo de 2,1%, enquanto a classe C, com rendimentos de R$ 2.166 a R$ 5.223, teve retração de 0,8%. As camadas D e E, com renda de até R$ 2.166, sofreram queda de 1,4%.
E se em 2016 o cenário foi ruim, as perspectivas para este ano, apesar da tendência de queda da inflação projetada pelo Banco Central, não são muito melhores. Mesmo que em patamares menores, a previsão é que a classe tenha uma queda de 0,6% na renda, com as maiores perdas previstas para as classes B (-3,5%) e C (-2,7) e D/E (-1%), ainda de acordo com a pesquisa da consultoria paulista. Os números englobam renda do trabalho, previdenciária e benefícios sociais.
A recessão econômica dos dois últimos anos, que jogou para baixo os níveis de desenvolvimento do País e alavancou o desemprego a níveis absurdos, acelerando o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016, é a principal causa para a perda na massa de renda da parcela mais rica da população. O estudo avalia que os mais ricos foram afetados porque a classe A tem majoritariamente o perfil empresarial, formada por empregadores, com a renda atrelada diretamente ao próprio lucro das empresas.
É por isso que a queda da inflação e a redução gradativa da taxa Selic são medidas prementes para estimular o consumo, reavivando a produção – passo firme para manutenção e a geração de empregos. Num País com uma das maiores cargas tributárias do mundo, elevados encargos trabalhistas e uma desigualdade social indecente, urge cobrar de um Congresso notório pela habilidade em escandalizar a opinião pública a aprovação de reformas que façam o País andar.
Fonte: Folha de Londrina