Os discursos que buscam estimular os agentes econômicos a investir no Brasil não encontram apoio nas evidências reais sobre a economia, a política e o sistema estatal

Em discursos e entrevistas, autoridades do governo federal vêm tentando transmitir aos chamados “agentes econômicos”, principalmente empresários e investidores nacionais e estrangeiros, mensagens de otimismo e de confiança na economia brasileira, com o objetivo de influenciar as decisões de negócios e de investimentos produtivos. O ambiente de confiança capaz de induzir empresários e investidores a executar projetos econômicos deve ir além da mera questão econômica e envolve, também, a estabilidade política e o equilíbrio financeiro do setor público. O problema começa no momento em que os discursos não encontram apoio nas evidências reais sobre a economia, a política e o sistema estatal.

A recessão, a expansão exagerada do setor público e seus déficits, o inchaço da máquina estatal e a enorme confusão política que inclui impeachment, queda das receitas tributárias, desmoronamento de alguns esquemas de corrupção – como o mensalão, o petrolão e a rede de corrupção nos estados e nas prefeituras – e as incertezas sobre o destino do sistema político são alguns dos ingredientes que fazem as mensagens otimistas do governo caírem no vazio sem produzir os efeitos desejados sobre os agentes econômicos.

O Brasil é um país com várias minas escondidas e prestes a explodir a qualquer momento

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O ambiente de incerteza tem início na previsão de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB). Em meados de 2016, o governo vinha prevendo que o PIB cresceria 2% em 2017, equivalente a mais R$ 124 bilhões de produto e renda. Apesar de não ser algo extraordinário, seria um desempenho bom para interromper a recessão e ser o primeiro passo rumo ao crescimento. Entretanto, em face da realidade, o ministro da Fazenda optou por ser realista: a primeira revisão na estimativa reduziu a previsão de crescimento para 1,6%; depois, para 1%; em seguida, para 0,5%; e agora já se fala em aumento do PIB em 2017 na faixa pífia de 0,2% – isto é, R$ 12,4 bilhões de produto e renda.

Esse número é baixíssimo porque se refere ao produto bruto, antes de se calcular o desgaste do capital físico usado no processo produtivo, e por ser menor que a taxa de crescimento da população, que está em torno de 0,8%. Como a questão política continua instável e a rede de corrupção segue embrulhada nos processos judiciais, a soma de tudo isso cria a crença nos agentes econômicos de que o ambiente de incertezas continua, coisa que discurso algum tem o poder de modificar. O fechamento das contas de 5.570 municípios, 26 estados, Distrito Federal, União federal e empresas estatais confirmará um déficit bastante elevado em 2016, cuja consequência mais séria é a explosão da dívida pública. Com tais dados reais, é tarefa inglória tentar convencer os investidores com discursos otimistas. Na economia, a variável com a melhor notícia é a inflação, que foi de 6,29% em 2016 contra 10,67% em 2015 e, em 2017, deve convergir para o centro da meta de 4,5%. Mas essa é apenas uma das variáveis componentes do cenário geral da economia.

Os últimos episódios de violência retratados nas rebeliões do sistema prisional mostram que o Brasil é um país com várias minas escondidas e prestes a explodir a qualquer momento, muitas das quais não são conhecidas em toda a sua dimensão catastrófica. Para temperar o ambiente de incertezas, o titular da presidência da República está submetido a um processo no Tribunal Superior Eleitoral sobre a validade ou não da eleição da chapa Dilma-Temer. Com tudo isso, a construção de um ambiente de certeza capaz de induzir os investidores a executar projetos empresariais no Brasil está fora do alcance das autoridades. As incertezas continuam.

Fonte: Gazeta do Povo

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